Wednesday, October 05, 2005

2.3.2. Jornalismo Gonzo invade a Internet
Entretanto, é na Internet que o gonzo jornalismo tem cravado seu espaço. Talvez porque na Internet ninguém vai ditar uma regra, que seja única para todos. Na Internet cabe todo mundo, de qualquer tribo. E não poderia ser diferente com o gonzo, que aceita toda e qualquer pauta, desde que ganhe a atenção do leitor do princípio ao fim.
Os blogs também se tornaram grandes divulgadores do gonzo jornalismo. Espécie de mania entre os internautas (um tanto quanto parte da contracultura, dentro desta democrática teia virtual), os blogs permitem ao usuário publicar tanto diários virtuais quanto matérias jornalísticas específicas, como aconteceu recentemente na cobertura da Invasão norte-americana ao Iraque e nas convenções presidenciais nos Estados Unidos.

Com a explosão da Internet em meados da década de 90, diversos escritores e jornalistas começaram a utilizá-la como ferramenta para divulgar idéias e fatos. No Brasil, destacou-se um zine eletrônico chamado "Cardosonline". Criado em 1998 e composto por oito colunistas e colaboradores evetuais, a publicação alcançou um sucesso inesperado para o formato zine. Chegou à marca de 4,5 mil assinantes e mantinha uma periodicidade de duas edições semanais. Em janeiro de 2001, foi publicada a primeira reportagem gonzo no zine, o que começou a despertar o interesse de centenas de internautas.

A matéria, intitulada "Vai um 1984 aí?", descreveu um dia na vida do repórter durante a terceira edição do Rock in Rio, evento musical ocorrido na cidade do Rio de Janeiro. Assinado pelo pseudônimo ''Suruba'', o autor relata os absurdos que envolviam toda a atmosfera do lugar, a começar pelo seu próprio estado de saúde:
O sol inicia sua jornada 40 graus. Me escondo nas asas de Nossa Senhora de Copacabana. Assim, tenho mais chance de ver gente, e não crustáceos. Agora, eu sei por que a Globo insiste em chamar o Rio de cidade Maravilhosa. Eles perderam alguma coisa no meio do caminho. Se acomodaram com o papel que lhes foi dado. OK. Nada mal pra uma primeira análise.
Minhas perspectivas não são nada boas. Na fila, com o sol a pino, feirantes atacando de todos os pontos cardeais, Charlie e seus asseclas bebendo caipirinha na piscina do Copa. Com as minhas credenciais de imprensa, claro. Passava das duas horas, e o ácido começara a corroer minhas sinapses como uma fórmula ultraconcentrada de cálcio. No momento em que passo as roletas, me apercebo do mundo melhor: um muro de pessoas propositalmente vitaminadas, trajando shortinhos e camisas apertadas, querem que me torne um deles. Pense neles como uma espécie à parte. Até mesmo os infláveis frenéticos conseguiriam melhores resultados. Envio uma mensagem às minhas pernas, e dois minutos depois estou correndo para minha salvação. Nenhum dos crustáceos tenta me impedir. Sabem que os derrrotarei nem que seja esmigalhado. Lembro-me do segundo propósito dessa expedição: encontrar o que resta da alma brasileira, soterrada nos escombros do cotidiano transnacional.
Abrem minha mochila, mas não encontram meus mais importantes bens. A minha camêra fotográfica e meu suco. Sem eles, não há como seguir adiante. Vocês sabem: máquinas e bebidas alcoólicas são proibidas dentro da cidade do rock. Paradoxalmente, no instante de sua entrada, a você é dado um folder sobre a nova Polaroid com ADESIVOS (nada como tornar esse evento em algo ainda mais efêmero). E não podemos esquecer a cerveja oficial do Rockinrio: Schincariol. Chopp. 500ml. E é só que temos de alcoólico. Cerveja inclemente para um clima idem. As pessoas correm, patéticamente a qualquer sinal daqueles caminhões - pipa. Eu, por acaso, estou no caminho de um deles. De relance, vejo minhas mãos e elas estão fora de foco. Tento com minhas havaianas. Apenas para descobrir que já derreteram. Agora sim, estou fudido. Coloco meu chapéu e tento ver alguma luz à frente. Mas tudo está muito claro.
A partir daí, internautas começaram a difundir e procurar ativamente mais informações sobre o assunto na rede, mostrando, mais uma vez, a mudança da prática e do discurso do fluxo da informação para o jornalismo atual.

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