Wednesday, October 05, 2005

2.3.3. Irmandade Raoul Duke

A Irmandade Raoul Duke foi idéia do Suruba em um daqueles telefonemas de meio-dia que a gente trocava quando estávamos desempregados. Surgiu primeiro como lista de discussão acerca do gonzo journalism e evoluiu para um site que publica escritores metidos a jornalistas (e vice-versa) que gostam de emular um dos mais famosos alter-egos de Thompson. (apud Cardoso)
Em março de 2002, entrou no ar a primeira versão do site de Jornalismo Gonzo brasileiro "Irmandade Raoul Duke". Apesar de ter durado cerca de um ano, a revista ajudou a fomentar de forma inédita o estilo no país. Focada na publicação de reportagens de campo – fato raro em sites de conteúdo exclusivo –, a IRD possuía cerca de 12 repórteres fixos e uma quantidade quase indefinida de colaboradores. Quase dois anos depois de desativada, seus editores (Cardoso e Suruba) ainda recebem perguntas, sugestões e matérias a respeito de Jornalismo Gonzo, que podem ser respondidas a partir do manifesto postado no site:
A Irmandade Raoul Duke reúne escritores, jornalistas e outros vagabundos da mesma estirpe interessados em diversos aspectos do gonzo jornalismo, das técnicas caóticas de reportagem desenvolvidas por Hunter Thompson ao traço nervoso de Ralph Steadman.
Apesar de nos auto-denominarmos uma irmandade de gonzo jornalismo, não somos gonzo jornalistas. O único gonzo jornalista de verdade que já pisou nessa terra foi o próprio Thompson, uma vez que esta é apenas uma denominação que outro jornalista bebum chamado Bill Cardoso deu pro nosso amigo. Sendo assim, limitamo-nos a fazer a nossa interpretação tosca do que seria gonzo e escrever nossas histórias seguindo alguns preceitos que fazem parte da nossa Carta de Princípios, inspirada nas técnicas e na filosfia desenvolvidas por Thompson em sua busca pela verdade.
Um dos mais populares repórteres da IRD é o jornalista André "Cardoso" Czarnobai. Natural de Porto Alegre e formado pela Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS, ele se destacou por sua criação profílica e cheia de maneirismos característicos no Jornalismo Gonzo:
A porta aberta nos catapultou para um universo paralelo. Um imenso placar eletrônico piscando números vermelhos, dezenas de aparelhos de televisão mostrando bolas numeradas, centenas de mesas ocupadas pelos mais diversos tipos de ouvintes do Zambiasi. O pé direito altíssimo, espaço gelado nas cores cremes da parede e numa arquitetura cheia de colunas e firulas. Apesar do meu pequeno conhecimento das artes aplicadas, a palavra "rococó" me veio à cabeça, mas não vamos interferir no barroco.
Eu me sentia em um sonho: todas as sensações eram novas. Meus passos em câmera lenta. Eu pisava em carpetes macios e a voz de aeroporto que anunciava os números ressoava na minha caixa craniana. O conceito de "universo paralelo" era cada vez mais claro. Ninguém notou nossa entrada. Todos permaneciam de cabeça baixa, concentrados em riscar números em suas cartelas. Me distraí com o ambiente por um momento. Meu procurador já havia encontrado uma mesa vaga e estava sentado quando finalmente o encontrei. "Caralho, olha só a cara dessas pessoas", ele disse. "Um bando de drogaditos".

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