Wednesday, October 05, 2005

2.4. O futuro do Gonzo no Brasil

2.4.1. Viabilidade do Gonzo no Brasil

O interesse do público em um jornalismo mais personalista acompanha a visível decadência da fórmula engessada à qual a maioria das redações no Brasil aparenta estar presa. Outro reflexo disso pode ser encontrado na cultura individualista que se abate no imaginário popular ocidental (ou mundial) através da mídia. Em seu livro "Metamorfoses da cultura liberal", o filósofo francês Gilles Lipovetsky explica sobre este cruzamento de tendências da seguinte forma:
O poder da mídia coincide com uma capacidade de imposição de modelos que, por não serem obrigatórios, não deixam de ter menos eficácia. Daí os inúmeros alertas contra as ameaças de conformismo e de despersonalização engendradas pela mídia, cuja influência, para falar como Heidegger, permitiria o desenvolvimento da típica ditadura do 'se', do impessoal. (...) Mesmo se, de fato, a mídia dirige-se a todos, ela não homogeneíza o corpo social mais do que a escola, sendo que os gostos e práticas continuam amplamente determinados pelas culturas de classe e pelas lutas travadas em nome da aquisição de sinais de distinção.

À mitologia da massa indiferenciada, é preciso opor os estilos de vida, classificados e classificadores, os diferentes habitus, as lutas simbólicas entre as classes. Essas críticas têm seus fundamentos, embora não cheguem a penetrar no essencial das práticas da mídia em nossas sociedades democráticas, ou seja, no que se refere à contribuição da mídia para o advento histórico de uma novoa cultura individualista. (...) Os meios de comunicação contribuem para a multiplicação dos valores de referência, para liberar os indivíduos da fidelidade a partidos políticos e igrejas, emanciapando-os das ideologias monolíticas.

Isso não elimina o conformismo nem os clichês, mas os torna menos rígidos, menos firmes, mais rapidamente questionáveis. (...) A mídia destrói as experiências afetivas comuns e o prazer das enormes reuniões (...) Paralelamente à multidão solitária, surgem as novas multidões emocionais pós-modernas, que cabem mal na grade da "sociedade do espetáculo", ou seja, da fabricação da passividade e da separação generalizadas.

A partir destas idéias e de outros argumentos postos nos capítulos anteriores em relação à mudança no sistema emissor/receptor ensinado nas faculdades com as novas tecnologias de comunicação, é perfeitamente exeqüível a teoria de que os leitores estão enfastiados do formato narrativo predominante na imprensa brasileira. Apesar da crise financeira do setor, soluções podem e estão sendo procuradas por editores que conseguem se manter a par do que realmente acontece ao seu redor.

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